Câncer de Mama e o Tabu do relacionamento
O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres. Milhões de famílias já foram afetadas pelo câncer de mama no Brasil e muitas ainda serão afetadas nos próximos anos, e infelizmente ainda existe um tabu quando falamos de câncer e principalmente sobre câncer e sexualidade.
Diante do diagnóstico de câncer de mama muitas vezes a mulher tem que deixar seu trabalho, seja doméstico ou profissional, o que repercute na mudança de papéis na família toda, muitas vezes deixando seu emprego, ou não tendo mais condições para cuidar de seu lar, as relações sociais e de amizade também acabam prejudicadas, visto, que muitas mulheres se isolam devido às mutilações ou alopecia (queda de cabelo) decorrentes do tratamento. Ocorrendo muitas vezes um sofrimento psicológico, maior do que o próprio sofrimento físico.
A família que vivencia o câncer de mama também luta constantemente para manter o equilíbrio, por meio de papeis, regras, padrões de comunicação, expectativas e padrões de comportamento que refletem suas estratégias de enfrentamento. Ambos vivenciam ansiedades e incertezas quanto ao tratamento.
Após tantas mudanças físicas (emagrecimento ou inchaço, queda de cabelo, perda da libido, mastectomia) muitas mulheres são afetadas pelo medo da rejeição e abandono de seus parceiros. Elas tem sua autoestima abalada, não se sentem mais bonitas e estão constantemente inseguras.
Os familiares das mulheres com câncer de mama também vivenciam diversas mudanças psíquicas tais como: medo, ansiedade, angústia, desânimo, incerteza quanto ao futuro e tratamento, o que interfere nas atividades sociais e produtivas e dificulta a relação conjugal.
A comunicação é uma via de mão dupla e é por meio dela que ambos os familiares podem expor seus desejos, pensamentos e discordâncias, ela é fundamental em todas as situações, especialmente no momento de doença, ela funciona como um facilitador das decisões.
Algumas pesquisas pontuam que o sexo feminino tem uma comunicação mais efetiva, enquanto que os homens muitas vezes se fecham, talvez querendo não incomodar ou por não saberem o que dizer as suas parceiras com câncer de mama, o que resulta em vulnerabilidade familiar para resolver conflitos e causa na paciente, sofrimento por sentir a falta da comunicação com o marido neste momento tão difícil.
Esse distanciamento, aumenta a fantasia da mulher e seus medos de não ser mais atrativa sexualmente e de não ser mais desejada pelo parceiro. Muitas vezes o parceiro com medo de magoá-la também se distancia sexualmente e a mulher sentirá essa atitude como rejeição e falta de amor e cuidado.
A dificuldade de comunicação com a mulher com câncer de mama também pode estar ligada ao mecanismo de proteger o ego, negando a possibilidade de morte e o sofrimento dela. Neste caso, o parceiro pode não aceitar que a paciente conte suas angústias e seus temores a
respeito da doença, com a desculpa de que quer lhe dar ânimo e evitar que pense bobagens, minimizando a doença ou a dor da mesma, com intuito inconsciente dele negar a doença e sofrimento que ambos terão que passar com o tratamento. O que será interpretado por ela, como descaso, abandono ou falta de cuidado do marido, quanto que na verdade é uma defesa inconsciente para sofrer menos.
Não existe um jeito certo de driblar as inúmeras emoções que o câncer traz, seja como paciente, ou como parceiro, cada um terá seu mecanismo próprio, buscando amigos para desabafar, igreja, oração, exercício etc. Porém, independente do caminho que cada um busque individual, como casal o melhor remédio será o diálogo. A comunicação tem o poder de desfazer fantasias, medos, incertezas e trazer à tona o que realmente cada um sente e juntos encontrar um caminho, um novo caminho. Inclusive, com tantas mudanças psicológicas e físicas ambos se reinventarão na sexualidade e como casal.
De acordo com estudos realizados, mulheres com câncer de mama constataram a importância do acolhimento do marido, já que elas costumam sentir vergonha devido a toda a mudança corporal ocorrida. Essas mulheres relataram a relação sexual satisfatória quando se sentiam acolhidas e aceitas por seus maridos e que gestos de carinho as ajudavam na autoestima, tendo a sensação de estarem protegidas e seguras aumentando a comunicação e compartilhamento das emoções vividas neste processo. Por sentirem-se aceitas, conseguiam manter o psicológico sempre positivo, o que as deixavam longe de tristezas. Essas pesquisas concluíram que o papel do marido, ajuda as mulheres com câncer de mama a se estabelecerem psicologicamente.
O afeto familiar, dá força as mulheres com câncer de mama a lutar contra a doença, e as ajuda a aceitar melhor esse processo da perda da saúde e que quando recebem este suporte se sentem acolhidas e mais seguras, pois, além de ter seu próprio sofrimento em relação ao tratamento que terão que enfrentar se preocupam também com o sofrimento dos familiares. Os mecanismos utilizados pelos familiares podem ser eficientes auxiliando no sentido de minimizar danos e perdas no processo do câncer de mama aumentando o bem estar emocional ou potencializando os efeitos negativos, como ansiedade, depressão etc. O câncer de mama abala toda a família, necessitando a família também ter suporte social para enfrentar todas as mudanças que o câncer acarreta.
Psicóloga Adriana Grosse CRP 08/18360
Referências:
CAETANO, J. Á.; SOARES, E. Mulheres mastectomizadas diante do processo de
adaptação do self-físico e self-pessoal. Rev. enferm. UERJ; v.13, n.2, p.210-216,
maio/ago. 2005
SANTOS, L. R.; TAVARES, G. B.; REIS, P. E. D. dos. Análise das respostas
comportamentais ao câncer de mama utilizando o modelo adaptativo de Roy. Esc.
Anna Nery[online], v.16, n.3, p.459-465, 2012. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452012000300005>. Acesso em: 16/07/2015