CARCINOMA: Estava decretado ali, naquela palavra, que minha vida jamais seria a mesma
Meu nome é Simone Akemi Funaki da Cruz e essa é a minha história.
A imagem que tinha de mim mesma até os 37 anos era de uma jovem mulher saudável. Nessa época, eu ainda amamentava minha filha caçula, que tinha 1 ano e 6 meses. Minha vida era cuidar da casa e das meninas, pois deixei minha profissão após o nascimento da minha filha mais velha.
No entanto, em 2019, vi essa imagem “saudável” se transformar, e tive que aceitar uma doença, mas nunca me aceitei doente. Esse foi meu maior desafio ao descobrir o câncer de mama: aceitação. Não conseguia encarar o diagnóstico sem a ideia de uma sentença de morte.
Desde os 20 anos sempre tive muitos cistos nas mamas, e até alguns nódulos ditos benignos, então não foi nenhum susto encontrar um nódulo na mama esquerda num período em que estava amamentando, que é justamente um período em que a mama fica diferente e torna-se confuso saber o que é normal ou não. Mesmo assim, fiz o que achei certo, procurei meu médico e o mesmo solicitou uma ecografia mamária, cujo resultado foi erroneamente laudado como galactocele – massa benigna comum durante o período da lactação.
Com esse laudo em mãos voltei ao meu médico que, com base nesse exame, me disse que estava tudo bem.
Inexplicavelmente, eu não dei aquele assunto como encerrado… Tinha um exame dizendo que estava tudo bem, mas meu coração não se tranquilizou…
Repeti o exame, porém em outra clínica. A médica que me atendeu detectou o nódulo como suspeito para câncer na mesma hora e me alertou para correr contra o tempo para realizar a biópsia. E a partir desse ponto, tudo começou a ficar surreal.
Fui para a biópsia ainda com esperança de não ser nada. Queria estar enganada, com esperança de que meu coração estivesse errado e pedindo a Deus que me livrasse de um diagnóstico ruim. Os dias após a biópsia foram os piores, uma espera sem fim. Até que recebi por e-mail a confirmação da minha intuição e experimentei o momento mais angustiante e solitário da minha vida.
Abri o resultado e li a palavra “CARCINOMA”. Estava decretado ali, naquela palavra, que minha vida jamais seria a mesma… Era fim de tarde, e resolvi que não estragaria a noite de sono do meu esposo naquele momento, esperei para contar no dia seguinte.
Os dias que se seguiram foram obscuros, chorava escondido porque não queria e nem sabia como explicar para as minhas filhas o que estava acontecendo. Eu as via tão pequenas e dependentes de mim e a culpa por não conseguir cuidar delas nesse momento foi muito cruel.
Foi nesse estado de perturbação que procurei o Instituto Peito Aberto. Achando que ia morrer, revoltada com a vida e com Deus.
Liguei para o Instituto e alguém me disse que eu poderia falar com a Mara. Sem saber o que esperar, concordei em falar, e foi nessa conversa por telefone, assim tão informal e sem grandes pretensões, que a Mara brilhou pra mim como um farol em meio ao oceano de medos em que eu estava perdida. Ela foi paciente, me contou sua história, sabia sobre tudo o que estava passando e finalmente me senti compreendida, e comecei a me compreender também.
Depois disso, estar no Instituto e participar das atividades que conseguia era como estar em uma família. Todas se entendem, se ajudam e eu, que nem sabia ao certo o que estava procurando, acabei encontrando todo afeto e apoio que precisava numa pessoa que simplesmente me acolheu, me entendeu e me ajudou a levantar. Conheci mulheres que passaram ou passam pelo mesmo que eu e estavam ali de pé, lutando pela sua vida. Cada esforço para driblar os efeitos do tratamento pesado vale a pena. Porque a vida vale a pena!
No dia do meu acolhimento presencial no Instituto Peito Aberto, eu disse à Mara que queria trabalhar lá tão logo pudesse. Vi e vivi a importância desse projeto na vida de quem passa pelo câncer de mama. Sou muito feliz em poder retribuir um pouquinho por todo apoio que recebi, pois fazer parte desse time é muito mais que vestir a camiseta rosa, é sentir-se grata por estar pronta a apoiar pessoas nas quais eu me enxergo.
Hoje, encaro o tratamento como algo natural dentro da minha vida, não tenho mais receio de chorar na frente das crianças porque elas precisam entender que momentos difíceis fazem parte da vida e a gente os supera. Coloco os cuidados comigo mesma no mesmo grau de importância da minha família, abaixo não.
Ganhei muitas novas amigas, tomei gosto pela atividade física e procuro reclamar o mínimo possível, e realmente estava certa quando achei que depois de um carcinoma a vida não seria mais a mesma, pois melhorou muito.