Lembranças de tempos de luta!
Setembro de 2012
Em uma sexta feira, senti um incomodo na axila do lado direito. Como estava numa fase de retomada das atividades físicas, associei a dor aos exercícios realizados no dia anterior.( nunca fui de fazer atividades físicas, mas, como havia tido os 2 filhos, e estava acima do peso, resolvi mudar meus conceitos e investir nos exercícios. Já a alguns meses, estava treinando corrida e musculação, num ritmo bem intenso, principalmente para mim.)
Passei o final de semana com esse incomodo, mas nunca passou pela minha cabeça, algo diferente de, a dor da atividade física…. No domingo, ao deitar, comentei com meu marido, médico, cirurgião, da dor que não passava. Ele, nem se importou (risos).
Na madrugada de segunda para terça, meu filho caçula, na época com 1ano e dois meses, (meu bebe), ficou doente, chorava muito. Estávamos muito cansados e decidi colocá-lo entre eu e meu marido na cama, para tentarmos dormir. Nunca fazíamos isso, meus filhos desde recém nascidos, sempre dormiram em seus quartos. Quando doentes, nós é que nos mudávamos para os quartos deles, para que eles não acostumassem a dormir entre nós dois.
Nesse dia, Arthur deu uma cabeçada no meu seio direito, e meio que como um reflexo, levei a mão até o seio e senti uma bolinha, tão pequena, que logo em seguida, a perdi.
Ainda assim, não pensei na possibilidade de ser um nódulo de mama. Sempre fiz minhas mamografias. Tinha esse “hábito” , ou neurose, desde os 18 anos, pois venho de uma família, com histórico de câncer de mama, apesar de ser por parte de pai. Por isso, estava muito tranquila. Havia acabado de amamentar em março, fui a minha médica, ela me examinou e pediu para voltar em novembro, quando faria meus exames de rotina.
Na terça, logo cedo, comentei novamente com meu marido, ele também não deu importância. Na hora do almoço, lembrei que havia sentido o nódulo e pedi para que ele me examinasse….
Vi em seus olhos, um certo desespero…. Na mesma hora, ele ligou para uma amiga dele, mastologista, que agendou minha consulta no mesmo dia, ao final da tarde.
Ela me examinou e fez uma ecografia. Nessa hora, senti nos olhares, que eles trocavam, que algo de ruim estava acontecendo….
Na quarta de manhã, já estava eu fazendo uma biopsia. Acho que foi o pior exame que já fiz na minha vida. Uma sensação de que o mundo poderia acabar naquele momento….
Ao fim do exame, a Dra pegou as amostras, olhou bem nos olhos do Lucas e disse: “leve agora essa amostra para o laboratório de Curitiba analisar”
Foi aí, que minha ficha começou a cair.
Ela muito cautelosa, como sempre, me abraçou e disse apenas, que iríamos esperar o resultado do exame, mas que provavelmente, teríamos que retirar o nódulo.
Foram dias difíceis. Não consegui mais voltar a trabalhar. Na época, eu era fonoaudióloga da APAE.
Na sexta de tarde, resolvi conversar com minha diretora. Expliquei que estava esperando o resultado da biópsia. Todos me diziam que não seria nada, mas, meu coração, já sabia….
Quando cheguei em casa, vi o carro do Lucas na garagem. Meu coração já acelerou, ele nunca chegava cedo em casa, aliás, essa era uma das nossas diferenças.
Entrei e logo recebi a notícia, câncer de mama.
Chorei, chorei muito, só pensava nos meus pequenos….
Lucas, sem derrubar uma lagrima, me disse: “é uma corrida contra o tempo, sua cirurgia está marcada para próxima sexta. Já agendei os exames pré-operatórios e todos os outros que são necessários para saber se não existe metástase.”
Não tive tempo de pensar em nada, questionar nada. Meu percurso já estava definido por ele.
Iniciou, realmente, uma corrida contra o tempo….no dia seguinte, estava eu iniciando meus exames.
Sei que tive um tratamento diferenciado e privilegiado, a todo momento por ser esposa de médico. Não tive tempo de pensar, já estava tudo decidido.
Meus exames eram analisados na mesma hora, coisa que para qq outro paciente, mesmo que particular, demoraria pelo menos, uma semana para conseguir consulta e mais uma pra sair o resultado. Se fosse pelo SUS então…
Lembro de um dos exames que fui fazer, para saber se havia metástase óssea. O médico responsável, era o amigo do Lucas que estava junto quando nos conhecemos e nosso padrinho de casamento. Ele me disse: ” Fabi, você está entrando num túnel longo e escuro. Mas esse túnel tem uma luz e uma saída, siga em frente, sem olhar para trás…” E foi isso que fiz.
A cada exame, mesmo que dando normal, o desespero da incerteza do que aconteceria comigo, ia aumentando. Mas, em momento nenhum, deixei isso transparecer para minha família. Apenas, Lucas, sofria calado ao meu lado.
Depois de todos os exames feitos, fiz a consulta com o plástico. A única coisa que lembro dele me falando é que tentaria fazer o máximo possível, para que eu me sentisse bem após a cirurgia, para que não afetasse minha autoestima quanto mulher. Eles teriam que retirar toda a mama, e a reconstrução, seria feita com silicone, mas que ele precisaria utilizar o músculo da minhas costas, um pedaço do gde dorsal.
Nessa hora, nem estava mais ouvindo o que ele me dizia, apenas queria que tirassem essa doença de mim. Não me importava se iria ficar com mama, sem mama, com cicatriz, sem cabelo…enfim, apenas queria estar viva para cuidar dos meus filhos.
Antes da cirurgia, fui a consulta com a Dra Ana, mastologista, que me explicou tudo que iria acontecer comigo, como seria a minha cirurgia. A única pergunta que fiz a ela, e acho que é a pergunta que todos fazem quando recebem um diagnóstico de câncer, eu vou ficar curada?
Ela se levantou, veio até mim, segurou na minha mão e na do meu marido e disse:” não posso falar de cura, você sempre será uma paciente com histórico de câncer….” Apenas abaixei a cabeça e chorei….
Fabiana, diagnosticada com câncer de mama aos 36 anos.