Sobre o Câncer de Mama

O câncer de mama é o tumor mais frequente em mulheres no mundo todo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Em 2012, no mundo, foram 1,67 milhões de casos novos. Também é o tumor com maior mortalidade, atingindo mais de meio milhão de mulheres ao ano.

Sua incidência varia conforme as regiões geográficas do mundo, pois muitos são os fatores que a influenciam: etnia, fatores reprodutivos, obesidade, costumes alimentares, uso de hormônios, idade, história familiar de câncer, álcool, cigarro, status socioeconômico, urbanização das cidades, entre outros.

No Brasil, sem considerar os tumores de pele não melanoma, é o tumor mais frequente nas mulheres, chegando a atingir 60.000 novas brasileiras em 2018, segundo estimativa do INCA (Instituto Nacional do Câncer), o que corresponde a quase 30% do total de todos os cânceres que acometem a mulher e quase 15.000 mortes.

A maioria dos casos é diagnosticada entre mulheres de 45 a 60 anos de idade, embora a incidência entre mulheres jovens venha aumentando. Acredita-se que este fato seja decorrente das mudanças no estilo de vida da mulher no último século, o que ativaria predisposições
genéticas mais precocemente. Por exemplo, existem vários estudos que associam um maior consumo de proteína animal com vários tipos de câncer, incluindo o de mama. A cada ano surgem mais estudos que associam o estilo de vida ao aumento do risco para o câncer de mama e, mais: o segundo câncer mais frequente na mulher hoje e que também vem aumentando é o de cólon (intestino) e a maior causa de morte em mulheres no mundo são as cardiovasculares, sendo que os fatores de risco para estas três condições são praticamente os mesmos (como demonstrado na figura abaixo). O sul do Brasil destaca-se pelo alto consumo de carne e, coincidentemente, é a região do país com maior
incidência do câncer de mama.

Do que a ciência conhece até os dias de hoje, apenas 10% desses tumores são hereditários – deve-se estar atenta para essa possibilidade nos casos de diversos parentes de primeiro grau com câncer de mama e/ ou ovário. Essas alterações podem ser decorrentes da família materna ou paterna.

Os principais fatores de risco são sobrepeso e obesidade, sedentarismo, alto consumo de produtos industrializados, açúcares, embutidos e carnes, consumo de bebida alcoólica, vitamina D cronicamente baixa, exposição longa a hormônios sintéticos como anticoncepcionais orais.

Os principais sinais e sintomas do câncer de mama incluem nódulo palpável, retração da pele da mama ou do mamilo, saída de secreção espontânea pelo mamilo (sobretudo transparente ou com sangue), espessamento ou vermelhidão na pele, nódulos nas axilas e até dor em alguns casos, sobretudo de início súbito e quando não relacionada ao ciclo menstrual ou uso de hormônios.

Sua maior chance de cura está no diagnóstico precoce, isto é, o diagnóstico realizado antes mesmo do aparecimento dos sintomas. E é aí que entra um exame já bem conhecido pelas mulheres, a mamografia. Apesar do desenvolvimento e aperfeiçoamento de outras técnicas que auxiliam no diagnóstico e sobretudo auxiliam na programação do tratamento, como ultrassonografia mamária, ressonância nuclear magnética das mamas e até mesmo testes genéticos, a mamografia é o único exame capaz de diminuir a mortalidade (por proporcionar o diagnóstico precoce), sobretudo no grupo de mulheres entre 50 a 70 anos. Em mulheres com menos de 40 anos, a maior densidade do tecido mamário muitas vezes impede ou dificulta o diagnóstico de tumores pequenos, ainda não palpáveis. A sensibilidade da mamografia cai muito nessa situação (cerca de 16% de apenas). Isso responde porque no sistema público de saúde a mamografia começa a ser realizada aos 50 anos, embora, na nossa opinião, o ideal é que pudéssemos fazer uma análise de risco individual e do tipo de mama para melhor definir a partir de quando e em qual intervalo de tempo realizar a mamografia. Para se aprofundar nos assuntos tratados até aqui (epidemiologia, sinais e sintomas, detecção precoce e exames diagnósticos disponíveis), você pode pesquisar nos sites ao final desse post – todos sites governamentais ou de pesquisa e com informações bem fundamentadas.

Porém, até aqui falamos o que podemos chamar de informações usuais, ou seja, informações bastante veiculadas nos meios de comunicação. Então, como falar de câncer de mama e não falar só o “usual”?

O câncer de mama é considerado uma doença única?

A resposta é não. O câncer de mama não é uma doença só; é uma doença heterogênea e complexa, com grande variabilidade interindividual em sua expressão molecular e fenotípica no momento do diagnóstico. É isso que explica duas mulheres da mesma idade, com tumores do mesmo tamanho e que são submetidas a mesma sequência de tratamento, evoluam de maneira diversa, isto é, uma evolui pra cura e outra recidiva ou tem uma metástase à distância dentro de pouco tempo. Todo indivíduo é fruto de um genótipo – potencial herdado – submetido aos estímulos do meio ambiente, gerando o fenótipo, que é o que vemos propriamente dito. Com as células tumorais acontece o mesmo. Cada uma tem um potencial genético que se manifestará de forma diferente conforme os estímulos a que for submetida (fatores reprodutivos, hábitos de vida, alimentação, sedentarismo, etc). Está claro que os diversos cânceres são causados por alteração de genes envolvidos na regulação do crescimento celular (oncogenes, genes
supressores de tumor, genes responsáveis pelo reparo do ciclo celular). Em muitos casos o desenvolvimento do tumor se deve a alterações em vários desses genes e por isso se diz que a etiopatogenia do câncer de mama é multifatorial.

É possível então classificar ou subdividir essa doença?

Nas últimas duas décadas, os avanços no conhecimento da base genética do câncer têm nos permitido identificar alguns desses genes e sub-classificar os tumores de acordo com sua expressão genética. É o que convencionou-se chamar de assinatura genética tumoral, devido sua importância prognóstica e terapêutica. Existem ao menos 4 grandes subtipos do câncer de mama invasivo (CMI) do ponto de vista genético, que nos orientam a individualizar o tratamento. Por meio da imunohistoquimica (um teste realizado diretamente nas células tumorais) podemos avaliar a expressão dos receptores de estrogênio (RE) e receptores de progesterona (RP) (marcadores presentes no núcleo da célula – quanto mais presentes mais a célula tumoral se assemelha a célula normal da mama, o que confere melhor prognóstico), HER- 2 (Proteína que se encontra na membrana da célula e ativa a cascata de proliferacao celular), Ki-67 (presente no núcleo das células e marcador de proliferação celular). O CMI Luminal A se caracteriza por uma alta expressão dos RE e RP, não apresentam HER-2 e Ki-67 abaixo de 13%; são tumores de boa resposta ao tratamento. Luminal B: muito semelhante ao Luminal A, porém com Ki-67 maior que 13%. Ainda apresentam boa resposta ao tratamento. O HER-2 superexpresso, como o nome já diz, apresentam superexpressão do gene ERB2, geralmente são negativos pra receptores hormonais e apresentam Ki-67 maior que 13%: são muito agressivos biologicamente mas respondem a uma terapia-alvo chamada Trastuzumabe (nome comercial Herceptin). O triplo negativo, negativo para receptores hormonais e HER-2, Ki-67 elevado: são de mau prognóstico, embora possam ter boa resposta a alguns quimioterápicos. A identificação de outros genes relacionados com o desenvolvimento tumoral, além dos já citados, tem proporcionado ampliar e individualizar ainda mais essa assinatura genética, por meio de outros testes já disponíveis e indicados (Oncotype Dx; Mamaprint) até o momento, para casos duvidosos, que seriam a princípio de bom prognóstico e precisamos de mais informação pra ter certeza disso e poder “dispensar” a quimioterapia sem que isso traga prejuízo ao tratamento; ou seja, casos em que na verdade a quimioterapia poderia acarretar mais prejuízo que benefício a médio e longo prazo. Isso também possibilita o maior desenvolvimento e aplicabilidade das terapias-alvo.

A terapia-alvo é também um tipo de quimioterapia?

Podemos considerar que sim, embora a ação de um medicamento alvo seja muito mais específica para atingir apenas as células tumorais, diferentemente da quimioterapia convencional que também atinge células sadias (por isso a queda de cabelo e outros efeitos colaterais). Ou seja, tem a máxima ação com o menor efeito colateral.

Assim é também o Instituto Peito Aberto, que nasce como instituto com o objetivo de exercer para a sociedade uma função nada óbvia: transformar dor em amor ao próximo. Uma função que vai muito além de um trabalho social afim de preencher uma lacuna deixada pelo poder público.

O seu corpo é único, assim como você é um ser único. O modo como um distúrbio, seja um câncer ou qualquer outra doença se manifesta em você, também é único. Doenças são classificadas para que se possa sistematizar a melhor abordagem e o melhor tratamento. Portanto, é importante que se procure um profissional qualificado e que seja dada a devida atenção a cada caso. Cuidar de si mesma; ter atenção aquilo que você tem poder para fazer diferente (escolher o que come, o que consome, o que pratica) e ser capaz de modificar sua história.

Sites recomendados

www.inca.gov.br
www.accamargo.org.br
www.sbmastologia.com.br
www.nccn.org

Dra. Ana Carolina Marcondes Machado
Mastologista
Habilitação em Mamografia e Ultrassonagrafia Mamária
CRM 26686

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